INTERPRETAÇÃO, PATRIMÔNIO E TURISMO
Para o turismo cultural se desenvolver, é preciso que os
moradores, empresários e gestores públicos conheçam, apreciem, protejam e
promovam o seu patrimônio. Não podemos esquecer que o que dá vida, cor e sabor local
à experiência de qualquer visita são as pessoas que aí moram, trabalham e se
divertem. Se a população, os hoteleiros, taxistas, comerciantes e vendedores
não conhecerem e gostarem de seus ambientes especiais e de suas manifestações
culturais, não saberão como se comunicar e o que indicar aos visitantes.
Mais ainda, se uma comunidade não conhece a si mesma, terá
pouca chance de se beneficiar dos frutos do turismo ou de enriquecer a
experiência do visitante. É por isso que se diz que um lugar só é bom para o
turista se for bom para o morador.
Entre os instrumentos mais utilizados para ajudar a
comunidade a se comunicar com o turista a fim de viabilizar bens culturais
locais como motor do desenvolvimento turístico, destaca-se a interpretação do
patrimônio.
A interpretação do patrimônio, ou interpretação ambiental,
é hoje uma prática técnica e acadêmica muito usada nos países com tradição em
turismo cultural e de natureza. Nasceu como interpretação ambiental nos parques
americanos no final da década de 50, para sensibilizar os visitantes e
convencê-los a ajudar a proteger a natureza. Depois, em meados dos anos 70,
ganhou as cidades americanas e europeias. Foi o tempo das trilhas para
caminhadas pelos centros urbanos e suas áreas verdes que, com a ampla participação
de professores, estudantes, comerciantes e moradores, recuperaram e valorizaram
áreas históricas, comerciais e de lazer para desfrute da população e dos
crescentes números de visitantes. Na Inglaterra, depois que a preservação e a
interpretação do patrimônio ambiental urbano passaram a sensibilizar e a
engajar grandes segmentos de sua população, o patrimônio cultural
desenvolveu-se como principal recurso da indústria turística daquele país.
Afinal, o que é interpretar?
Numa definição simples, interpretar é um ato de
comunicação: é o que faz um artista quando representa uma peça de teatro, uma
música, uma dança; é o que faz um guia de viagem ao contar fatos e histórias
sobre determinado lugar ou monumento; é o que faz a chamada sinalização
turística para o pedestre, orientando-o e informando-o sobre os vários lugares
especiais de uma cidade ou sobre a flora e a fauna de uma mata; é o que faz um
contador de histórias para entreter amigos e visitantes; é também o que fazem
as publicações como mapas, livros, guias e cartilhas sobre determinado lugar ou
país; é finalmente o que faz o artista ou artesão ao dar forma à sua expressão.
Todas essas formas de comunicação são atos de interpretar o mundo e a natureza
que nos cerca.
E o que é interpretar para o turista senão se comunicar com
ele, transmitir os sentidos de nosso lugar e de nossas expressões culturais?
Assim, interpretar o patrimônio é acrescentar valor à experiência do turista e
visitante, captar seu olhar ligeiro, envolvê-lo na experiência, tocar seus
sentidos e entretê-lo para tornar sua visita inesquecível.
Sendo a arte de apresentar lugares, objetos e manifestações
culturais às pessoas, a interpretação do patrimônio é um elemento essencial
para sua conservação e gerenciamento. Uma trilha sinalizada para caminhadas ou
um roteiro guiado, por exemplo, ao orientar o fluxo de visitantes, acaba por
proteger o objeto da visita, valorizando como recurso econômico.
Há vários modos de planejar uma trilha para caminhadas ou
um roteiro turístico em sua cidade. O melhor é fazer um plano interpretativo,
envolvendo as pessoas para tratar das três etapas principais: recursos, temas e
mercados. Se você estiver interessado nesse tema, pesquise mais na bibliografia
ou na internet.
Na verdade, o maior mérito da interpretação é a
popularização da história, da cultura e do conhecimento ambiental. Ao
compreender o sentido do que veem, ao apreciar sua experiência com o lugar e
com as pessoas que os atendem, os turistas e visitantes ficam mais felizes,
sentem-se enriquecidos com a convivência e com o que aprendem informalmente
enquanto se divertem em seu tempo de lazer. Acabam por dar mais valor à cultura
local, e o patrimônio é também valorizado economicamente enquanto produto
turístico.
Quando bem-feita, ao vivo, a interpretação pode resultar
numa experiência inesquecível para o morador ou turista:
- um passeio com guias qualificados e criativos;
- uma roda de samba, de capoeira, de desafio;
- um sarau de época em casas ou fazendas históricas;
- uma roda de contadores de histórias com sabor local;
- um circuito para ateliê de artistas e artesãos, para o
“ver fazendo”;
- uma feira ou mercado popular bem apresentado e cheio de
vida, com bares e a compra e venda da produção local e regional;
- as festas populares, onde os próprios festeiros
interpretam o sentido da celebração com músicas, ritos, danças e vestimentas
variadas.
A interpretação se serve de várias artes e tecnologias,
como o desenho, a fotografia, a arte gráfica, a informática e a robótica, para
exibir, valorizar e enriquecer lugares e objetos:
- a sinalização turística interpretativa voltada para os
pedestres, que decifra lugares da cidade, sua história e monumentos, seus
personagens, mitos e lendas, a arquitetura de várias épocas;
- atrações temáticas que revelam histórias e práticas
culturais singulares do lugar, por meio de painéis coloridos e atraentes;
- museus e centros de cultura, que verdadeiramente
revolucionam seus acervos de forma dinâmica e interativa, interpretando-os por
meios que dão movimento (uso de imagens e sons), levando os visitantes a
“experienciar” paisagens, tecnologias, usos e costumes de épocas passadas e
presentes;
- a base da interpretação é o texto, impresso ou virtual,
que compõe mapas e fôlderes ilustrados, indicados especialmente para orientar a
descoberta individual dos “tesouros” da cidade, importantes para promover a
educação ambiental e patrimonial informal e lúdica, tanto para o turista quanto
para o morador, todos aprendendo a ser turistas culturais.
Finalizando, a restauração, a conservação e a promoção do
patrimônio cultural de uma sociedade devem ser geradoras de trabalho e renda
para o conjunto de seus membros. Há um vasto campo de trabalho para o governo e
as organizações praticarem a interpretação com a comunidade: ações como
oficinas de artesanato, artes e ofícios, oficinas de restauro, oficinas de
letreiros, concursos de melhor fachada ou quarteirão, pesquisas para conhecer o
perfil do visitante e turista, formação de guias criativos, resgate da história
oral com os mais velhos para formar contadores de histórias, cursos especiais
para taxistas, um processo permanente de qualificação e atualização de quadros
locais para bem receber visitantes e proteger seu lugar.
Atividades:
1) Em grupo, escolha, em sua
cidade, algum lugar ou expressão cultural de que você goste e que poderia virar
uma atração turística. Pense no turista que você poderia atrair: idade,
preferências, disposição e necessidades especiais. O que é necessário para preparar,
interpretar e promover a nova atração? Quais seriam os parceiros necessários?
Fonte: CAMINHOS DO FUTURO
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