O QUE É FOLCLORE?
Vários autores tentaram explicar o que é folclore de
diferentes maneiras:
Ciência de psicologia coletiva, observada por pesquisas a
todas as manifestações espirituais, materiais e culturais do povo. (Luís da
Câmara Cascudo)
Conjunto das tradições, conhecimentos ou crenças populares
expressas em provérbios, contos ou canções. (Dicionário Aurélio)
O Folclore estuda os produtos da mentalidade popular.
(Amadeu Amaral)
Qualquer que seja o tipo de mundo social onde exista, o
folclore é sempre uma fala. É uma linguagem que o uso torna coletiva. O
folclore são símbolos. Através dele as pessoas dizem e querem dizer. A mulher poteira
que desenha flores no pote de barro que queima no forno do fundo do quintal
sabe disso. Potes servem para guardar água, mas flores no pote servem para
guardar símbolos. Servem para guardar a memória de quem fez, de quem bebe a água
e de quem, vendo as flores, lembra de onde veio. E quem é. Por isso há potes
com flores, Folias de Santos Reis e flores bordadas em saias de camponesas.
(Carlos Rodrigues Brandão)
Há outras definições e, apesar de organizadas e expressas
de formas diferenciadas, é possível, a partir delas, formar uma imagem do que
seja folclore. O nome folk-lore foi criado por um arqueólogo inglês, Willian
John Thoms (1803-1885), propondo a denominação num artigo com esse título. Numa
tradução ao pé da letra, a palavra folclore significa, basicamente, sabedoria
popular. Mas isso não elimina algumas discussões e dúvidas. Por exemplo, quem é
o povo que se manifesta folcloricamente? Folclore, por se relacionar com
tradição, é sinônimo de antigo, ultrapassado? Folclore e cultura popular são a
mesma coisa?
O criador da palavra Folk-lore, aportuguesada
para Folclore, foi o arqueólogo inglês Willian John Thoms. Nasceu em
Westminster, a 16 de novembro de 1803. Desde a juventude, dedicou-se ao estudo
da bibliografia e das “antiguidades populares”. Fundou a revista Notas e
Perguntas, para o intercâmbio de dados de literatura popular, dirigindo-a
entre 1849 e 1872. De suas obras destacam-se Canções e Lendas da França,
Espanha, Tartária e Irlanda e Canções e Lendas da Alemanha. Faleceu a 15 de
agosto de 1885. Em 1846, Willian Thoms endereçou carta à revista The
Atheneum, de Londres, sob o pseudônimo de Ambrose Merton, com a principal
finalidade de pedir apoio para um levantamento de dados sobre usos,
tradições, lendas e baladas regionais da Inglaterra. [...] Dessa maneira,
surgiu a palavra “folclore”, formada de dois vocábulos do inglês antigo
“folc”, com a significação de povo; e “lore”, traduzindo estudo, ciência ou
mais propriamente, o que faz o povo, sentir pensar, agir e reagir. Entretanto,
só foi confirmada em 1878, com a fundação da Sociedade de Folclore, em
Londres, da qual foi primeiro presidente Willian John Thoms, e cujo objetivo
era “a conservação e a publicação das tradições populares, baladas lendárias,
provérbios locais, ditos vulgares, superstições e antigos costumes e demais
matérias concernentes a isso”. E daí por diante, passou a ser adotada por
quase todos os estudiosos do mundo. Os estudos e investigações da matéria a
que Thoms deu o título de “folclore”, são, no entanto, anteriores ao
aparecimento da palavra. LIMA, Rossini Tavares de. Abecê do folclore.
5ª. ed. São Paulo: Ricordi, 1972, p.9. |
Luís da Câmara Cascudo diz que folclore é a cultura do popular tornada normativa pela tradição. Segundo Brandão: “Vizinhos, eles não são iguais, e sob certos aspectos podem ser até opostos. Não são poucas as pessoas que acreditam que os dois nomes servem às mesmas realidades e, apenas folclore é o nome mais ‘conservador’ daquilo de que cultura popular é o nome mais progressista”.
O fato folclórico é absorvido pela comunidade de praticantes e assistentes populares, justamente porque é aceito por ela e incorporado ao seu repertório de maneiras de pensar, sentir e agir, preservadas pela tradição popular. A criação do folclore é pessoal, mas, ao longo do tempo, tende a ser coletivizada e a autoria é incorporada ao chamado “domínio público”. Como explica Brandão: “Mas justamente porque foram aceitas coletivizadas com o tempo, a memória oral, que é o caminho por onde flui o saber do folclore, esqueceu autorias, modificou elementos de origens e retraduziu tudo como um conhecimento coletivo, popular”.
O folclore é considerado expressão quase exclusiva de uma fração específica do povo: pescadores, camponeses, lavradores, boias-frias, gente da periferia das cidades. No entanto, modalidades folclóricas são praticadas cotidianamente por intelectuais, pessoas urbanas, profissionais liberais, que manifestam um gesto, cantam uma canção de ninar e pronunciam provérbios.
São indicadores do fato folclórico: ser popular, anônimo, coletivizado, tradicional e persistente, funcional à sua cultura e passível de modificações, quando os modos de sentir, pensar e fazer do povo são observados no seu todo. Como ressalta Carlos Rodrigues Brandão: “(...) o folclore é vivo. Ele existe existente, em processo. No interior da cultura, no meio da vida e dos sonhos de vida das pessoas, grupos e classes que o produzem, o folclore é um momento de cultura e aquilo que não foi ele, há um século e meio atrás, pode estar sendo ele agora, nessa manhã (...)”.
Sobre o folclore infantil, já se disse que “são mensagens e recados de povo a povo, de século a século, sem sair da perene onda infantil que os leva a ignorados destinos”. (João Ribeiro)
O folclore manifesta-se nos vários domínios do saber, da expressão e da comunicação; o importante é valorizar o que há de original, criativo e inteligente em cada manifestação e perceber o quão viva é a cultura de um povo, uma vez que a transformação é uma de suas características.
A beleza das festas folclóricas brasileiras é evidente e constitui um atrativo para os turistas. Entre as principais podemos incluir o Carnaval, a Festa do Divino, o Círio de Nazaré, as Festas Juninas, o Maracatu, entre outras. Todas essas festas, bem como as outras atividades relacionadas ao folclore nacional, constituem um grande patrimônio cultural de nosso país.
Apesar da larga aceitação do vocábulo
folclore, que acabou substituindo “antiguidades populares”, “literatura
popular” ou mesmo “antiguidades literárias”, estudiosos das mais diversas
origens têm utilizado outros títulos para designar a matéria, ingleses mesmo
usam “folkways”; franceses: “tradicionismo”, “antropopsicologia”,
“demopsiquia”; espanhóis: “demosofia”, “demopedia”, “tradições populares”;
italianos: “demopsicologia”, “ciência dêmica”, “etnografia”; alemães: “volkskunde”
e “volkehre”; portugueses: “etnografia”. No Brasil, Joaquim Ribeiro sugeriu,
para substituir “folclore”, a expressão “populário”. Ultimamente, passou a
ser adotada, na Inglaterra e depois, nos Estados Unidos, a expressão
“folklife”, que origina do sueco “folkliv”. LIMA, Rossini Tavares de. Abecê do folclore.
5ª. ed. São Paulo: Ricordi, 1972, p.11. |
Os manuais de folclore dividem-no em diversas categorias. Escolhemos algumas que serão trabalhadas nos próximos temas e que poderão ser enriquecidas com os exemplos que você e sua comunidade poderão acrescentar.
Atividade:
1) Procure, em jornais e revistas, matérias sobre o Carnaval e outras festas de sua região. Depois, em classe, discuta com os amigos sobre a participação dos turistas nessas festas.
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